Shukaku.

As estrelas temeram aquela noite. A escuridão tomou sua forma mais insana quando o demônio quis-se na terra. O arauto da dor, aquele que não tem nome. Seus passos rasgaram o que quer que estivesse em sua frente. E só existia ele: A única vida que resistia, alimentando-se de outras. Apesar do destino estar escrito, o caminho era um mistério, embora, uma coisa não podia se negar: Enquanto ele caminhar sobre esta terra, o crepúsculo será manchado de sangue.

Os olhos fecharam-se por alguns segundos. Era o preciso para minha consciência retornar, e ir visitá-lo. A criatura se perdeu em nossa luta, e a esperança pode novamente existir. Por que agora? O que ele queria? Era uma aviso, só podia ser. Porém, atou também minhas mãos. O medo sempre foi o pior dos inimigos, a maior das fraquezas. ─ Eu estou bem. Apesar de não querer estar. ─ A morte, quem sabe, daria um fim ao meu tormento. Eu temia que nem isso fosse capaz. Ele era maior que a própria concepção de vida ou não, os padrões contorciam-se aos seus pés. Era além de nós.

Mas não além de mim. Um vulto de sanidade percorreu meu corpo putrefeito. A última barreira entre o fogo e a floresta era eu. Precisava lutar. Eu iria lutar. ─ A minha dor não tem fim. Porém, é ela que constrói sua prisão. ─ Uma determinação falsa. Um sorriso triste. Um guerreiro em seu frenesi. Mais alguém vivia naquele mundo de dois. As garras rasgaram meu interior, dilacerando com calma minha carne e alma. Suas armas sórdidas, covardes e inevitáveis. ─ Por que você é assim? ─ A súplica soou dolorida dos meus lábios. Porém,o impacto deveria ser catastrófico. O que alguém como eu, de tamanha inferioridade diante ele, queria saber sobre seus sentimentos. Só queria entendê-lo, talvez, fosse ressentimentos que nunca precisaram existir. No fim, a minha luta seria mental.


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- Você é incapaz de entender os sentimentos de um ser superior a vocês, humanos podres e inferiores. RIA! - Dizia aquele guaxinim gigante, aos berros e com uma voz aguda. Permanecia deitado, desprezando aquela existência que encontrava-se a sua frente.

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Seu escárnio diante minha presença fazia-se mais que evidente. Até pelo ressoar do tom da sua voz naquele limbo mostrava o quão era sua supremacia. Porém, mediante a uma breve reflexão mental, minhas palavras carregariam força suficiente para fazê-lo retorcer, e, quem sabe, me ouvir. ─ Sua existência pode ser superior, mas, esta verdade nem vossa superioridade é capaz de negar: Você está confinado a mim. ─ Bradei tão forte quanto aquela falsa coragem, precisava ter sua atenção. ─ Sendo assim, por que não podemos pelo menos conviver em paz? Minha intenção é que ambos coexistam e existam. ─ E no fim, o guerreiro de outrora se desfez em um irmão. Minha súplica era mais que sincera, mais que honesta, afinal, a guerra que travávamos não nos levaria a lugar algum.


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- Paz? Olhe para você, para mim. Olhe onde estamos garoto, não me venha falar de paz. Por séculos venho sendo aprisionado e torturado por seres iguais a você, que se mostram dispostos a fazer uma possível... “parceria”, até que chega o momento em que tudo vira um mar de sangue. Vocês não tem o mínimo direito de exigir paz de nós, Bijuus! – Gritava a fera, dessa vez, com uma voz rouca e grossa, carregada de ódio. Suas garras chocavam-se contra as grades que os separavam, enquanto permanecia pressionando as mesmas contra seu corpo.

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Ele era quem era, e eu apenas mais um. Porém, suas conclusões sobre meu pobre espírito faziam-se erradas. Meu sofrimento, quem sabe, ultrapassava aquelas grades que nos separavam. ─ O que você entende como prisão? Quem de nós está preso? O rosnar das suas ofensas desabam nas falsas realizações. Sou eu que estou preso. ─ Não deixei que sua ira voraz me intimidasse, não era hora para ter medo. Prosseguiria com minhas palavras sóbrias, de ternura proporcional a uma coragem que insistia em crescer. ─ Sou eu que é olhado como um monstro entre meus irmãos. Sou eu que é visto como demônio perante minha vila. Sou eu que não pode dormir. Sou eu que estou preso. E no final, você é um dos únicos que não me abandonou. Eu não quero te dobrar, eu quero nos libertar. ─ Meus passos foram calmos em direção a grade. Minha face iria de encontro a dele, para que pudesse ver a verdade em meus olhos.


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- E acha mesmo que vou emprestar meu poder para que esse mundo podre, que como você mesmo disse, me considera um monstro, uma aberração, um demônio, se beneficie? Àqueles que habitam essa terra apenas desejo destruição e morte. - As palavras eram duras, e um sorriso sarcástico as tornavam ainda mais rígidas. Aquela fera remoída de sentimentos começava a ser tocada pelas palavras do pequeno ser, porém ainda mostrava resistência ao mesmo.

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Não conseguia, nem devia, negar agora as verdades que ele pronunciara. O mundo era uma lugar sujo, de tal forma que parecia ser impossível de limpar. Porém, as palavras dos antigos sempre falavam mais altos em minha pobre consciência, estas mesmos que faziam da esperança imortal. ─ Eu sou diferente. E, por você ser parte de mim, é capaz de entender o que estou falando. Quando foi a vez que minhas ações causaram algum mal? Quando minhas ações derramaram sangue inocente? Cá estou para lhe pedir a força para mudar, para viver, e quem sabe mostrar quem realmente és: Uma criatura da paz. ─ Enquanto falava, mais perto eu chegava. As grades pareciam diminuir perante a presença daquele encontro. Não mais sofrer, nem eu, nem ele, nem ninguém.


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As palavras do garoto realmente tocavam o interior da criatura. Naquele ponto, a fera já estava disposta a emprestar todo o seu poder, porém não tornaria as coisas tão fácil. – Libere o selo, e podemos conversar melhor... – Dizia enquanto tornava a sorrir.

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As palavras pareciam honestas, embora sua postura não. Mas quem era eu para negar suas ordens? Os movimentos foram feitos até o selo se desfazer. As correntes de cristais finalmente foram estilhaçadas. E, enfim, apenas a vontade nos separava. Minha ingenuidade carregaram minhas palavras. ─ Então é isso? Posso contar com seu respeito? De minha parte, pode ter certeza, faremos do mundo um lugar melhor. ─ Esperançoso, acreditei e esperei por um final feliz.


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- É claro que podemos, RIA! – Gritava o gigante, já com sua voz aguda novamente, enquanto impulsionava seu braço a frente, desferindo um soco em direção ao garoto. Apesar da hostilidade imposta pela criatura, não era nada mais que encenação. Independente da ação do menino, o soco pararia centímetros antes de acertá-lo, e a reação do mesmo era aguardada.

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Qual é o primeiro sinal de respeito? É não temer o aliado nem mesmo consumido pela fúria. Minha conclusão foi deveras arriscada, porém, de sinceridade ímpar. Não daria sequer um passo diante aquela ação hostil. Mostrá-lo-ia que confiava nele, suficiente para por minha vida em risco diante a sua. Embora, não conseguia esconder o tremer das minhas pernas sobre aquela aflição mortal. ─ Eu não quero mais lutar, não mais. Se esta for realmente sua vontade, termine com isso. ─ As palavras finais, enquanto a sombra de sua pata monstruosa já se fazia por completo sobre meu corpo. Enfim, era isso.


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- Hunf, por hora vou confiar em suas palavras. Pegue meu poder e faça dessa jaula de animais denominada mundo, e a transforme em um lugar melhor. - Após as palavras, um salto distanciava o Bijuu do garoto, enquanto o mesmo era expulso daquela dimensão.

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