I've heard it said that poison is a woman's weapon.

The red viper.

Teu corpo já não era mais seu. Era meu, agora. Eu o levava comigo, como fruto de um futuro impedido, de uma história não contada. Meu destino não era esse, mas assim como todas as outras coisas na minha vida, o destino também mudou. Tornando-me uma parte qualquer de um passado esquecido, me envolvi sobre um manto claro, de coloração que não chamasse atenção e fui a pé nos desertos. Era um lugar desconhecido por mim, mas há rumores de que aqui abriga um grande poder, uma pessoa cujo pode dominar o mundo. Não quero ouro, não quero fama. Quero apenas uma coisa: Teu sangue escorrendo sobre minha lâmina, deixando-me em uma sensação inexplicável de prazer por ouvir os gritos agonizantes de uma pessoa que nem saberá como morreu.

Pisei onde nenhum homem ousaria pisar. Não um homem qualquer, um homem que não conhecesse os limites de sua própria natureza. Comum são as costas, as montanhas e os países grandes, onde pessoas se matam em guerras, mas ainda sim tem suas vidas normais. Talvez aqui seja igual, mas não por muito tempo. Caminhei sorrateiramente, evitando ser atingido por ventos do norte, que traziam as más lembranças. Cruzei dunas íngremes que me deixaram fadigadas, fitei o horizonte várias vezes, pois não queria me cegar. Não via nada por muito tempo, até que surgiu contra mim uma muralha gigantesca. Parecia ter sido feita pelos deuses, ou gigantes. Ambos existem, em meu conceito. Ignorei o fato por um breve momento, até ver uma pequena junção de pessoas, comerciantes, encapuzados no negro e no branco, no colorido e no sem cor. No leve e no pesado, mas todos levavam as mesmas coisas: Mercadorias, o fruto de sua vida. Da onde tirariam seu pão e água. E nesse deserto, haja água. Me infiltrei facilmente entre eles, que não perceberam minha aproximação, talvez devido a fadiga visível de uma longa viagem no sol escaldante, ou porque eram cegos mesmos. Não bati com a cabeça por muito para decifrar isso, pois era irrelevante. Apenas segui curso, onde me levou por entre uma fenda na muralha, e logo logo imaginei: "Vou estar lá dentro, seja o que os deuses quiserem. Farei o que tenho de fazer, por Aelle."

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Beyond the desert

A muito tempo eu estive parado. Esse momento vêm junto à idade, inevitável. Castigo? Não. O descanso era preciso, quase clamado pelo corpo. Porém, o que eu descobri é que existem pessoas amaldiçoadas: Elas renascem. Seu repouso terá fim, sua paz terá fim, sua sanidade terá fim. Novamente a múmia levantará suas armas. Meus olhos abriam-se lentamente.

── Senhor, alguém está tentando se infiltrar na cidade.
── Ah, ok. Deixa que eu vejo isso.
Levantei-me do meu trono sujo e parti. Meu destino era de encontro àquele que invadia nossa muralha. Não era necessário armas, nem vontade destas, afinal, meu espírito pacifista sempre fez-se mais que presente. Até na guerra deve existir honra. Eu iria dar-lhe boas vindas.

Vi-o de longe. Meus aliados souberam que ele não pertencia aqui desde que entrou junto aos mercenários. Sabemos, e sempre saberemos qualquer um que cruza nossos portões. E não foi diferente. Ou foi? Ao fitá-lo, seja lá quem for, eu quase consegui reconhecê-lo, como se já nos conhecêssemos de outra vida. Um estado peculiar, levado em conta, quando o abordei.
── Eae. Sua cara está péssima, o deserto não está te fazendo bem. Aceita um cigarro? ── Um olá cordial, antepondo a realidade. ── Eu conheço bem essas terras, e você não pertence a elas. O que faz aqui?

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Beyond the desert 2

Aproximou-se e por um momento senti meu corpo tremer, parecia que minha infiltração não fora lá tão bem discreta assim. Estranho, pois para mim, eu parecia muito com os mercenários que por ali rodeavam. Tolo fui de pensar que no meio deles não houvessem ao menos um, assim como eu, mas que servisse este local. Afinal, não podem deixar qualquer um entrar, mesmo que sejam comerciantes. Me notando, talvez tivesse avisado à algum superior. Não liguei, apenas encarei a situação de frente, assim como aquele que me fitava a alguns passos dali.

── Cigarro? Não fumo, obrigado. ── Foi o suficiente para recusar tal pedido. Não quis me dar ao luxo de aceitar algo de alguém que não conheço, vindo de uma terra que nunca vi. Venenos estão por todo lado, e meu corpo não aceitaria mais um, a menos que eu quisesse. ── Venho de não muito longe, mas não sou hostil. O que procuro aqui é apenas o que qualquer outro cidadão procura. Uma vida simples, um trabalho, qualquer coisa que pudesse dar um caminho pra minha vida seguir. ── Induzi-o a aceitar-me como um morador, ou até alguém da elite nesta cidade. Não demonstrei sequer nenhuma habilidade em que pudesse me destacar.

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